7 de agosto de 2012

Compromisso Social (?)

Pensar em sair de carro nos dias de hoje é ter que planejar os gastos além dos triviais: gasolina, manutenção, onde estacionar... É pensar em proteger seu bem, muitas vezes conquistado com o suor do trabalho e, portanto fruto de dinheiro honesto, que aos olhos de quem somente observa, parece uma dádiva que nos foi concedida por sorte ou qualquer força mística de merecimento. Pode ser atribuído também à sorte, às oportunidades, ou seja, a tudo, menos ao seu esforço cotidiano.

Antes de mais nada pagamos impostos para tudo, inclusive para respirar. No mínimo IPVA e IPTU deveriam nos garantir o direito de parar o automóvel nas ruas onde a sinalização permite, mas não é o caso. Na cidade onde moro, e certamente tem sido uma realidade compartilhada nas capitais deste país, não há mais espaço para os carros, nem para trafegar nem tão pouco para estacionar. Sendo esta uma triste constatação, nós motoristas, que precisamos trabalhar e também gostamos de passear, precisamos encontrar maneiras de usar os nossos carros, repeitando as leis e a utilização dos espaços públicos.

Para complementar, as ruas que não estão sob custódia da prefeitura, onde podemos novamente PAGAR para estacionar em via PÚBLICA, passaram a ser ocupadas por centenas de pessoas que se propõem a "cuidar" dos nossos veículos às vezes de forma educada e proativa, outras tantas sem o menor cuidado ou mesmo (e principalmente), usando de coação: "É cinco reais adiantado" ou melhor ainda: "É dez reais adiantado", e assim por diante, a depender da disponibilidade de vagas (procura e oferta) e do tipo de acontecimento que implica na quantidade de pessoas que irão fazer de tudo por um "cantinho".

E da forma como as coisas vêm acontecendo, muito mais do que o bem estar econômico e social de alguém que tenta tirar o seu sustento de forma honesta, me sinto como se estivesse sendo assaltada de uma forma elegante, às vezes sutil, sob pena de sofrer consequências, sabe-se lá de quais naturezas, caso se negue a pagar adiantado por um serviço que não pediu ou mesmo não precisa.

Do mesmo modo, percebo o valor cobrado pelos guardadores regularizados, que usam coletes, cartelas e eventualmente nos atendem de maneira gentil, também como um roubo, só que consentido, porém, não menos ofensivo. A diferença é que a ameaça não é em relação à integridade física da pessoa ou do veículo, mas legalizada, padronizada: "Se a SET pegar seu carro sem a cartela, leva multa e reboca". E diante desse argumento irrefutável e da certeza de que encontraremos o nosso bem no mesmo lugar, com certa segurança, pagamos e tratamos o fato com naturalidade, como um evento que não se discute. Seguimos adiante e para o dia seguinte, separamos o dinheiro "do estacionamento".

No ano passado fui assaltada numa ocasião dessas. A noite, entrando num bar na companhia de amigos, não pagamos os R$ 5,00 na chegada, pois achamos justo pagar na saída, quando constataríamos que o "flanelinha" estaria lá, e que havia "tomado conta" do carro. Então, quando retornamos 5 minutos depois, pois desistimos de ficar no local, fui atacada pelo próprio guardador de carros, que me tomou a bolsa, com uma das mãos no meu pescoço enquanto a outra tentava puxar a bolsa e me empurrava ao chão.

Este ano, mais um episódio curioso. O rapaz aproximou-se de mim, logo após que encontrei uma vaga SOZINHA e estacionei, sem a brilhante ajuda de ninguém. Ele somente acenou e não me cobrou nada antecipadamente. Naquele momento eu comentei com uma amiga que estava comigo que não tinha dinheiro em espécie para pagar ao rapaz, no que ela retrucou: "deixa, a gente não paga". Mas diante da experiência anterior sempre me sinto sobressaltada nessas situações, ou seja, quando não tenho o "trocado" para o guardador, me sinto antecipadamente ameaçada. Na volta, o rapaz, pediu R$ 5,00, se aproximou e estendeu uma das mãos próximo ao vidro do motorista, do meu lado, onde eu ignorei e ele, ao perceber que não receberia sua recompensa, esmurrou o retrovisor e deu um chute na porta traseira do carro.

Resumo da ópera: Por sermos considerados responsáveis pela pobreza, pela superpopulação e falta de controle na natalidade, pela existência de políticas públicas assistencialistas que só funcionam para controlar e alienar, com vistas às eleições e por sermos cobrados de sermos mais "humanos", terminamos por arcar com todas as consequências de nossas escolhas, pagando com nossos bens, com o risco de perdemos até mesmo nossas vidas, por eventos banais, cotidianos, pelos quais somos responsáveis.

Bom, pelo menos há tempo para pensarmos em quem devemos escolher para nos representar publicamente, para que efetivamente possamos nos sentir responsáveis pelo que enfrentamos no nosso dia a dia.






Um comentário:

  1. um amigo que andava armado sofreu o mesmo que vc. Ele desceu do carro e deu dois tiros no chão, em direção ao pé do sujeito. Ele se mijou todo e pediu pelo amor de deus para não morrer. A valentia (revolta social ou qualquer adjetivo) extinguiu-se instantâneamente. Depois do primeiro incidente, eu já chego esculachando o guardador. Dou uma de doido. Tem funcionado.

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