8 de março de 2011

Ah, o carnaval...

Essa época do ano costuma ser um marco na vida de muitas pessoas, interferindo até mesmo no contexto social já que "o ano só começa depois do carnaval"...
Falar de relacionamentos humanos numa festa como essa é algo peculiar, difícil de crer, descrever e hoje, pelo menos pra mim, de viver. O que não dá pra negar é que a percepção do outro muda. Nos sentimos mais "soltos", nos permitimos mais do que em outros momentos... soltamos aquilo que temos de mais íntimo, tenebroso, tímido, alegre, agressivo, como se a imensa multidão pudesse nos proteger de nós mesmos. Estamos escondidos, nos sentimos escondidos. Afinal, podemos fazer o que queremos, podemos?

A impressão que tenho enquanto mulher é que os homens não sabem (mais) como se aproximar de nós, e nós sabemos menos ainda como nos comportarmos na presença deles...

Se um namorado termina o namoro às vésperas do carnaval:

A mulher se for de beber, bebe, se for de chorar, chora, quer "pegar todos", finge uma alegria descabida, não convencia, na tentativa de preencher um vazio que só o tempo ajuda a acalmar e que termina ali mesmo na avenida, diante de tantos expectadores desatentos de tão preocupados com sua própria diversão. Afinal carnaval são só 7 dias...
O homem, sendo ou não de beber, ele bebe, sendo ou não de chorar, não chora... Ele está seguro de que a sua intenção de curtir o carnaval desacompanhado tem uma razão de ser: Poder. Ele pode "pegar" quantas mulheres quiser, todas, ou quase todas, porque no carnaval elas estão disponíveis para isso. Receber um não no carnaval é uma ofensa que vale frases do tipo: "veio fazer o quê aqui então?" ou "sua hororrosa!" (esquecendo que antes de levar um fora você era linda!). Eles ficam indignados, ui!

Outra situação comum é a paixão de carnaval... Qual folião nunca se pegou pensando naquela pessoa tão atenciosa, tão diferente e tão especial que conheceu numa noite de carnaval? Um jeitinho contagiante, te protegendo das confusões, querendo saber qual a sua profissão, onde mora e o que gosta de fazer pra se divertir (quando não é carnaval...) e passa a noite toda ao seu lado... um fofo!
Mas é carnaval... não sabemos se aquela paixão será alimentada para além dos sete dias ou se durará quase nada, indo-se com o fim da festa. Alguns tornam-se amores, outros dessabores...

Beijar na boca parece sempre a grande descoberta do século e se faz de tudo pra conseguir um beijo. Pega-se pela mão, aperta-se o braço, puxa-se os cabelos, joga-se um colar no seu pescoço em nome de uma antiga tradição... Alguns conversam, fingem interesse, outros de fato se interessam. Mas o que vale é o beijo, o resultado final, os meios parecem não importar muito. E parece mesmo que não beijar muitas ou muitos no carnaval, a festa da fartura, implica numa prórxima oportunidade distante, só fevereiro do ano seguinte. Então beija-se, e beija-se, e muito!

A sensação é de que somos descartáveis, homens e mulheres. E muito mais se tem a dizer sobre o carnaval e suas particularidades. Basta um sorriso e tudo é motivo para você "estar querendo".

Ah, o carnaval...

11 comentários:

  1. Ahhhh.. O carnaval!!!!!
    Em pensar que eu nem gosto e saí 4 dias.
    O fato é que sair para me divertir com amigos queridos e não para pegar ninguém, levei vários puxões no braço que quase resultaram em fraturas (imagine só).
    Realmente fica aquela coisa de seres descartáveis!

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  2. O carnaval sempre me faz pensar... Antes e depois, porque pensar durante parece uma loucura. Se pensarmos, e principalmente, se virmos as imagens da multidão não estaremos lá!
    Gente que se mistura, empurra, puxa, pula, dança... E o que dizer dos sacos molhados dos catadores de latinha? rss
    O pior de tudo é que no ano seguinte repetimos tudo de novo... Acho que o que sustenta toda essa insanidade é de fato as boas companhias que temos!!!

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  3. O carnaval é o ambiente perfeito para os amores líquidos, descartáveis e para os laços frouxos de Bauman...

    Vc tá mandando muito bem no blog! Adorei! Bjoss!

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  4. Os amigos são os melhores fãs que se pode ter!!!
    Obrigada amore!

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  5. Oh menininha eu sou seu fã... dance comigo até de manhã!

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  6. como disse La Mercury:
    " Ô, é Carnaval, quero água pra beber
    Ê, é Carnaval
    Ê, é Carnaval
    Ô, é Carnaval, pra gente sobreviver"

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Ah o carnaval...
    Com direito a pulseirinha " Quem pegar pegou!"
    É o que? Feira? Festa na casa da mãe joana?
    E olhe que tem mulher que se voltar pra casa se um colarzinho cai em depressão...
    " O que acontece comigo? Não sou bonita o bastante?, não pego ninguém nem no carnaval?"
    ( o que traduzindo significa mais ou menos que nem no carnaval onde qualquer uma tá valendo, mesmo que n tenha um dente na boca, fale "pobrema" ou cegue você com um rajada de colene... E ela foi rejeitada! Realmente, olhando por esse lado, é de deprimir)
    Agora resta saber se eu quero " ser escolhida" por alguém que tem tão alto grau seletivo... que pensa: fez xixi sentado, não é sapo, estou pegando...
    Eu passo... rsrs

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  9. Adorei! Creio que isso traduz um pouco da insegurança feminina e do quanto de poder atribuímos aos homens. E quer saber? Pra quem observa de fora conseguir um colarzinho azul é a coisa mais fácil, as mulheres dominam e os homens sabem disso!
    Por isso a fantasia. Ela por si só, resolve as adversidades da conquista essa época do ano. As mulheres se jogam, se entregam. Que homem não quer isso?
    Paquerar pra quê? Muito esforço por pouco resultado...

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  10. Adorei! Concordo que no carnaval nosso comportamento (homens e mulheres) muda pelo fato de que nos sentimos "protegidos pela multidão" mas, mesmo soltos e protegidos a verdade é que "não nos permitimos ter menos do que tivemos um dia" mesmo que nossa realidade atual seja contrária e isso de certa forma acaba nos levando a "dar" ou "levar" os foras do carnaval. Quando encontramos mesmo que no carnaval alguém condizente com o que julgamos sermos merecedores, alimentamos nossas expectativas ainda que momentâneas e aí surge o que você chama de "paixão de carnaval" que pode ou não ultrapassar os sete dias (normalmente ultrapassa) não se sabe por quanto tempo, afinal além de tudo o que pode ser bom, o carnaval quando se vai deixa à todos uma herança: a insegurança do comportamento. Acredito que essa tal insegurança seja uma das principais causas de sermos tão descartáveis no carnaval, se o contexto fosse outro e os personagens fossem os mesmos, o final da história com certeza seria bem diferente.

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  11. Obrigada Fabiano! Concordo também... seja bem vindo às nossas discussões e reflexões!

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