10 de março de 2011

Na Era das Redes Sociais

Já faz um tempo que eu tenho me perguntado se sou tão feliz quanto os meus amigos virtuais...

Quando começou essa onda de rede social eu não me interessava muito - tudo que é novo me causa certa estranheza - mas, hoje me vejo quase como uma viciada. Assim que conecto a internet, antes dos emails, antes do estudo e antes do trabalho, preciso, preciso muito, visitar o espaço virtual onde estão os meus amigos. E quando preciso encontrá-los eles estão lá, mesmo que não estejam de fato...

Esse acompanhamento diário (pra não ter que confessar que é um pouco mais do que isso, já que entro duas, três, quatro vezes num mesmo dia...) tem me mostrado o quando meus amigos são felizes! E consequentemente eu deveria me sentir feliz por eles, pois são muito queridos e sem sombra de dúvidas completam a minha vida de uma forma indescritível! Mas eu nem sempre fico...

Como essa minha cabecinha é um pouco (muito) inquieta, esse assunto começou a passear pelas idéias, me fazendo pensar se de fato letras de músicas românticas indicam um amor verdadeiro e duradouro, se fotos de viagens, passeios, festas, comemorações de fato refletem essa felicidade permanente que se pretende mostrar aos outros. Eu adoro fotos! Adoro posar de modelo e abrir um sorriso que possa ser visto por todos... Mas eu não as publico tanto no meu perfil. Será que não sou tão feliz assim?

Talvez cada um tenha uma forma de expressar a sua felicidade. Compartilhar com os outros é um modo bastante genuíno e gostoso. Eu também gosto! Mas isso me faz pensar em outra coisinha sobre os relacionamentos humanos. A fragilidade dos contatos físicos, pessoais, íntimos... Eu gosto de contato, sou de contato, preciso de contato... Por exemplo, não tem quem pague o valor de um abraço num amigo querido! E isso me deixa particularmente muito feliz... Pelo tempo do abraço ou pela lembrança de como foi bom, espontâneo e verdadeiro.

Não tiramos fotos de abraços... Talvez em aniversários e olhe lá. Tiramos fotos de paisagens, construções antigas, tradições culturais, eventos, artistas. Tiramos fotos com amigos, desconhecidos, paqueras, namorados... nessas horas nos encostamos e até ensaiamos aquele abraço (geralmente pra caber na foto) de lado, com a mão atrás das costas do amigo. Mas não daquele abraço de frente, espontâneo... Não gostamos de fotos espontâneas. Precisamos arrumar o cabelo, deixar transparecer que emagrecemos, dar um sorriso aberto.

É possível que o excesso de felicidade que se faz questão de aparentar hoje em dia - e não podemos negar que somos cobrados para sermos felizes -  reflita na verdade um imenso vazio que estamos tendo nos nossos contatos sociais reais. Estamos chegando num tempo em que mensagens resolvem quase todos os nossos problemas, não precisamos mais "sentar pra conversar".

As redes sociais tem  nos aproximado das pessoas distantes, nos permitindo participar de suas rotinas ao mesmo tempo em que tem nos afastado daqueles que estão todos os dias ao nosso lado... Uma felicidade inoportuna que não corresponde às nossas realidades, já que não é possível sentir-se feliz a todo momento. Alguns vão jurar que são! Mas eu não consigo acreditar... A tristeza é algo tão legítimo quanto a felicidade e ajuda a completar o ciclo saudável dos nossos relacionamentos humanos.

7 comentários:

  1. Concordo com suas palavras e o que mais me "assusta" é essa negação severa da "tristeza", que não é permitida e não pode ser sentida! Triste, de uma sociedade que não permite a tristeza, que quando surge é logo rotulada de patologia!!Não que esta não exista, mas vamos combinar que nem tudo é depressão!!

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  2. Exato! Não acho pertinente essa tristeza excessiva de alguns que se auto rotulam "depressivos", porque sentir-se triste hoje é quase um sinônimo, mas sentir-se triste é tão necessário quanto sentir-se feliz.
    Nenhum dos dois momentos dura para sempre!!!

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  3. Essa felicidade, para mim, é mais um dos produtos da nossa cultura de aparências. Esta reflexão já havia me ocorrido ao perguntar a amigos sobre o carnaval, após ver fotos animadíssimas, e receber respostas nada empolgantes, como:"legal" ou "cansativo", ou após ver fotos super românticas de um casal, que por conhecer de maneira mais íntima, sabia que não vivia nada bem. Aquela felicidade toda, infelizmente, não era real.Eu também já me peguei pensando: "poxa, acho que não sou tão feliz assim", até descobrir que nem eles. Não que eu seja a favor da exposição dos problemas e tristezas nas redes sociais, contudo a necessidade de mostrar que aquela festa frustante foi ótima ou que o namoro problemático é um mar de rosas tem me incomodado muito. Acho que as pessoas estão deixando de preocupar-se com os próprios sentimentos para concentrarem suas preocupações no que vão mostrar que estão sentindo, o quanto estão aproveitando a vida e o quanto "são felizes". As redes sociais nos aproximam em "convívio" mas estão nos afastando da verdade. Como já foi dito, nada substitui o contato físico e uma boa conversa não virtual.

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  4. Isso! É bom poder compartilhar essa ansiedade que sentimos por não estarmos "enquadrados" numa felicidade geral ou numa depressão profunda (pq isso hoje também é moda...)

    Bom saber que não estamos sós e que podemos e devemos nos sentirmos tristes e alegres sem que isso represente um enorme problema!

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  7. Analisando e concordando com vc e fazendo um link cm Bauman, estamos no momento em que surge a idéia de "sujeito pós-moderno". Profundamente marcado pela liquidez dos novos tempos.
    Inserido em um mundo fluido, de rápidas e constantes transformações, também a identidade desse indivíduo passa a ser fluida, porosa e de difícil delimitação.
    A pós-modernidade permite que as identidades se formem em torno do lazer, do prazer, da aparência, da imagem e do consumo. Como consequência tornaram-se frágeis os laços que a delimitavam.
    O interessante é que dentro da mídia, as redes sociais, configuram-se como um cenário amplo em que é permitido construir e divulgar "a ou as" identidades, que se deseja-se transparecer, ou seja, aquilo que se é, ou aquilo que se almeja ser. É um espaço de construção dos sujeitos, onde há a teatralização, praticamente, em tempo real.
    Reflito constantemente, pois, me deparo sempre com fotografias, entre outros, que não correspondem aos discursos que escuto e vejo das pessoas...e me remete ao trecho em que cazuza diz: " suas idéias não correspondem aos fatos..." E isso me faz pensar a todo instante, qual é a verdadeira face desse eu??? Enfim...enfim...enfim...

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