12 de dezembro de 2014

Um olhar feminino sobre a "Maridocracia"

Fim de ano é época de retrospectivas, e a minha propõe uma visão diferente. Costumamos refletir sobre tudo aquilo que fizemos durante o ano e pensamos em como melhorar para o ano seguinte, aproveitando o momento de misticismo e superstições para emanar boas vibrações e desejar que o que está por vir seja renovador e sempre melhor. Afinal, mal não faz...

Lembrando das minhas experiências pessoais cuja retrospecção foi além de 2014, percebi o quanto de demérito costuma ter uma conquista exclusivamente feminina quando comparada às conquistas masculinas ou àquelas obtidas por casais tradicionais, cujas mulheres realizam suas conquistas por influência de seus parceiros. Corre um grande risco de eu estar enganada, e espero que eu esteja, mas vou apresentar a minha mais fervilhante reflexão. 

As primeiras cobranças para sermos mulheres bem sucedidas, isso na minha geração, vieram da expectativa de um "bom casamento" para que pudéssemos nos sentir seguras e confiantes, sendo que o resto viria naturalmente junto com o matrimônio. Como dizia minha avó: "procure sempre alguém melhor do que você", na intenção de que o sucesso fosse mais garantido, creio eu. Na certeza de que essa mulher não teria planos profissionais audaciosos, cuja visão permaneceria estagnada em tempos remotos, viriam as próximas cobranças sociais e mais proximamente familiares, de que essa mulher pudesse ter filhos para que a sua vida finalmente estivesse completa. E lá vamos nós seguindo nossos cursos de vida conforme os velhos livros de biologia que nos ensinavam sobre o ciclo simplista do "nascer, crescer, reproduzir e morrer". Mas a biologia ainda não conhecia as ciências humanas e sociais, e esquecendo-se de atualizar-se, as pessoas, ao menos muitas delas, permaneceram com essa expectativa de vida que eliminava qualquer possibilidade entre o crescer e reproduzir e, mais ainda, entre o reproduzir e morrer. 

As possibilidades femininas limitavam-se desse modo a variações poucas, sempre incluindo a necessidade de alguém, de preferência um marido, para que pudéssemos nos tornar visíveis e ajustadas socialmente, mantendo a ordem natural das coisas. Para que mexer nisso se está tudo dando certo?

Mas, por ironia o mundo mudou, as mulheres mudaram e os espaços e possibilidades se ampliaram para nós. Só que muitos ainda esperam de nós o casamento, os filhos e o desejo (alheio) de que possamos nos completar com tudo isso. 

Vamos voltar à minha reflexão pessoal... Nasci, cresci e... Ao invés de casar e reproduzir, investi nos estudos e no trabalho. E você pode me dizer sabiamente: "mas eu também investi nos estudos e no trabalho, assim como muitas mulheres que conhecemos e elas, bem sucedidas, ainda casaram e tiveram seus filhos". Sim, elas existem! Mas a minha análise vai mais além. O que tenho notado é que as conquistas dessas mulheres, as que cumprem seus papéis sociais dentro dos conformes, costumam ser mais exaltadas do que aquelas realizadas por mulheres independentemente de seus parceiros. A "maridocracia", palavra que creio ter inventado, é um algo mais que eleva essa mulher socialmente. Percebo isso quando relato que não sou casada e que não tenho filhos, apesar dos meus 37 anos. E o mais espantoso é que as pessoas parecem não acreditar que não me sinto incompleta nem infeliz por isso. Muitas inclusive insistem dizendo que "uma hora a vontade vem", nesse caso referindo-se aos filhos, já que casar é uma vontade. 

Considerando que não casei (ainda) e que tudo que conquistei foi por esforço próprio e investimento educacional de minha mãe, já falei dela antes, sinto que muitos me olham como se fosse um E.T. e que aguardam o dia em que de fato possam me parabenizar. Concluir um mestrado, estar empregada, ser reconhecida na profissão, comprar um carro zero pago a prestações, concluir o doutorado, e qualquer outra coisa que possa fazer me dão a sensação de que perdem o valor diante de uma mulher que marca um casamento ou engravida pela décima vez. Talvez eu esteja exagerando, mas a ideia é pensar sobre isso, pois essas coisas acontecem e, muitas vezes sem que nos demos conta, principalmente quando acontecem com outras pessoas, não conosco.

Ainda me soa estranho que em pleno século XXI as pessoas se ocupem mais da vida dos outros do que das suas próprias, se preocupem mais do que nós sobre nossas escolhas pessoais, se minimizem tanto em um mundo que mudou e que trouxe inúmeras possibilidades, se contentem com opiniões ao invés de informar-se... Maridocracia é algo para se guardar como história. Cada um precisa se valorizar pelo que é e pelo que constrói, inclusive seus casamentos e seus filhos, se desejar, mas que seja algo a mais e não a única possibilidade de ser reconhecida em seu lugar de mulher, porque ninguém precisa ter um lugar só.

4 comentários:

  1. Parabéns!! Pura verdade.

    ResponderExcluir
  2. Além disso, esses índices de medição de felicidade da vida alheia esquecem de conquistas não materiais. Você pode não casar, não ter filhos, não ter carro ou casa própria e mesmo não ter estudado, mas sentir-se feliz por outros motivos, não é mesmo?

    ResponderExcluir