27 de março de 2011

Ser macho nos dias de hoje... Exigências femininas

Muitas das minhas amigas costumam dizer que em outra encarnação gostariam de ser homem e que se pudessem escolher, teriam sido logo nessa. Eu também já pensei assim um dia, quando era adolescente, tanto na transição como durante todo esse período. Na minha visão, os meninos tinham mais liberdade enquanto que para as meninas havia muitas regras. Na minha família, prioritariamente feminina, pelo menos havia.

Com o tempo fui pensando na praticidade de ser masculino. Praticidade que estava na minha cabeça, pois não sendo um deles não tinha (nem tenho) como ter certeza sobre essas afirmações. E passei a pensar nisso nas situações em que sentia vontade de ir ao banheiro, mas não tinha condições devido ao estado impraticável que são os banheiros femininos ou na ausência deles. Fazer xixi em pé, ahhh se eu pudesse!!!

Mas seria essa a grande vantagem de ser um homem?

Não exatamente. Essa era uma vantagem de ordem prática, objetiva, tinha o seu lugar. Mas tinha outra coisa masculina que me intrigava e interessava mais... Naquela época eu acreditava que os homens tinham o poder de escolher suas parceiras, decidir se queriam ou nao beijar uma menina, era quem nos tirava pra dançar (e ninguém nunca me convidava...), escolhiam indiscriminadamente sempre as mais bonitas, as mais altas, as mais magras, as mais louras... E durante a adolescência eu não era nada disso. Era uma menina. Sem atriativos físicos, sem maldade, sem malícia, sem entender a razão de tudo aquilo acontecer. Eu não entendia. Por isso queria muito, muito ser um deles. Não sabia paquerar - ninguém me paquerava. Não tinha as artimanhas dos adolescentes, dos meus amigos, daquele momento único para viver determinadas experiências.

Por ironia ou fatalidade, o tempo foi passando. Bichinho danado é esse tempo! Fui mudando fisicamente (pra melhor... ufa!) e amadurecendo nos relacionamentos sociais. Consequentemente passei a fazer parte do universo dos relacionamentos amorosos, quando, ainda nas mãos dos meninos, comecei a ser escolhida por eles. Meu sonho era do príncipe, e eu começava a perceber que ele não existia... E essa decepção foi com certeza das maiores. Maior do que descobrir sobre o Papai Noel e o Coelhino da Páscoa...

Passados alguns anos, para não dizer muitos deles, e após (e mesmo durante) experiências "amorosas" das mais diversas e um curso de psicologia como bônus, passei a perceber a delícia de ser mulher em um mundo masculino. As cobranças que sofremos (sofríamos?) durante a adolescência para nos comportarmos como "mocinhas", não sairmos com "qualquer um", esperarmos o "homem certo" para ter relaçõe sexuais, ou melhor, fazer amor, preservando a virgindade de preferência até o casamento, eventos que me causavam grande ansiedade, foram revertidas para os rapazes.

Duante certa fase da vida, os meninos, por serem mais atraentes do que nós, e por serem criados por mães corujas, sentem-se o máximo. Muitas vezes mais do que são. Quem lhes atribui esse poder somos nós mulheres, mas ainda não percebemos (meninos e meninas) que é desse modo que acontece. E eles são os detentores do poder, e podem, e conseguem. Fazem e desfazem e nós deixamos que isso aconteça, alimentando um ciclo que parece interminável de desentendimentos e incompreensões. Por quê? Por quê?

Quando mais adiante passamos a encarar relacionamentos mais "maduros", com homens mais velhos (da nossa idade...), percebemos o quanto de poder temos em nossas mãos. A ansiedade masculina anda estampada no olhar, na forma de se aproximar, na performance sexual... E essa última parece ser especialmente uma área tenebrosa. Aquele poder que estava muito dentro das calças daquele jovem já não é suficiente. O mito do He-Man com seus poderes de Grayskull - repare no tamanho da espada - sem contar a Espada Justiceira do Lion, que além de crescer inadvertidamente na frente de todos nós lhe promete ter "visão além do alcance", já não sustenta mais as fantasias masculinas sobre como reagir à presença de uma mulher.

Entenda mulher aqui como uma pessoa que sabe o que quer, que trabalha, que lê, estuda, é independente, faz escolhas, conserta coisas, investe na bolsa de valores, sente prazer, abre latas, discute política, cuida da família, gosta de sexo, sai com as amigas, enfim, alguém que não se permite mais controlar como antes. Que entende ter autonomia para deicidir, escolher e execer o seu poder diante do contexto social. E algo me diz que essa mulher amedronta os rapazes. Eles parecem não saber como lidar com isso. Mocinhas indefesas são para ser protegidas (aprendemos isso desde pequenos) e essas, como fazemos com elas?

Não há uma resposta prática para essa pergunta. Mas também não há razão para transformar essas mulheres em monstros que sairam de um lugar estranho e desconhecido, como se tivéssemos contaminadas por radiação ou algo que impessa um contato genuíno e verdadeiro entre ambos os sexos. Agora sem a expectativa do príncipe, mas de relacionamentos reais, com figuras reais, essa mulher quer ser percebida com todos os atributos que hoje lhe constitui.

Penso que o homem ainda tem uma necessidade de mostrar serviço, e como hoje em dia não nos contentamos com pouco, nem com o mínimo, surgem o medo, a ansiedade. Medo de não corresponder, de não satisfazer, de não atender as expectativas femininas...

Pra quem pensava em ser homem parece que os benfícios não compensam os custos, e claro, não podemos nos tornar o que não somos - principalmente "virar homem ou virar mulher", ainda que existam cirurgias para isso.

Homem precisa arriscar. Mulheres gostam de homens seguros, decididos, confiantes. Companheiros que busquem estar verdadeiramente ao seu lado - seja por um momento ou por dois. Se eles parassem para pensar nas reais necessidade femininas, deixando de lado um narcisismo quase inevitável centrado no falo, certamente teriam suas ansiedades diminuídas e aprenderiam a lidar melhor com essas mulheres. E são muitas as exigências femininas...

Depois de tudo isso ser homem? Não, obrigada!

4 comentários:

  1. Bem, o problema do xixi em pé já foi resolvido Higgfly!!
    Amiga, amiga..eu só sei que depois desse discurso todo de que não espera principe encantado, já descobriu que não existe e tal!! Vc termina dizendo que as "mulheres gostam..."Quem disse que eles têm que "pensar nas reais necessidades femininas" Quando dizemos isso, estamos de outro modo dizendo que queremos um príncipe encantado que adivinhe meus pensamentos!!Jung, disse algo mais ou menos assim: não são metades que se completam, mas inteiros que se unem. A idéia de colocar no outro a responsabilidade de alguma coisa e mais ainda lutar contra esse outro para realizar algo em nós, para mim não faz muito sentido.
    Lembro tb, de um texto de Rubem Alves (tênis X frecobol) e um trecho:
    "O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

    O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos..."
    bj

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  2. Bem observado! Mas quando falo sobre as "reais necessidades" é só uma maneira de dizer que devemos observar melhor o outro (homens e mulheres). Inclusive porque não sei quais são de fato essas necessidades... Cada um tem as suas.

    Em relação ao príncipe penso que não exista enquanto alguém ideal, que todos amem, que seja como nos contos de fadas. Foi desse que falei. Se existe, não encontrei. Mas desconfio que exista o homem perfeito, assim como a mulher perfeita, desde que saibamos que são perfeitos para nós e mais ninguém.

    Perfeitos em suas qualidades, perfeitos nos seus defeitos, mas perfeitos acima de tudo para as nossas imperfeições.

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  3. E eis que ela se revela uma cronista de primeira!!rs

    Tenho acompanhado teu blog assiduamente,minha linda...e tenho adorado teus textos tão reflexivos e polêmicos!

    E olha, não é que eu já quis ter nascido homem,também, em um certo momento da minha vida...?rs...Pois é...ainda bem que estamos sempre nesse processo incrível de maturação
    ...rs...maturação das idéias que nos permitem mudar nossos olhares constantemente ...

    Tanto o homem como a mulher têm suas necessidades peculiares, mas o que acho mais incrível é que ,na verdade, (pelo menos pra mim)
    é a descoberta de que ganhar ou perder, nesse jogo, é pura bobagem, como bem disse Roberta, porque devemos amar o outro,não pelo que ele faz por nós ou nos dá, mas , simplesmente, pelo que ele é...

    Essas 'diferenças' dos gêneros instauradas por uma sociedade super machista (inclusive com nós mulheres participando ativamente nesse processo,como vc bem colocou)só gerou imensos conflitos para os relacionamentos, impedindo que ambos( o homem e a mulher) se descobrissem completos em seus potenciais...Ainda bem que isso vem mudando...mas acho que nós mulheres temos que fazer isso preservando a nossa feminilidade...

    Tem um filme (acho que foi 'Closer-perto demais..) que discute bem isso...e lembrei de uma frase de um dos seus diálogos que é a seguinte: " Eu te amo porque não preciso de você..."...é qualquer coisa assim...

    Portanto, ficar idealizando o outro é mesmo pura perda de tempo...

    Somos todos cheios de imperfeições( e ainda bem, senão qual seria o sentido de viver??)

    Imperfeições perfeitas para uma bela aprendizagem!!! hehehe!!!

    Parabéns, queridona!!
    vc é linda...

    Beijokas azuis...
    Rai

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  4. Muito obrigada duplamente! Pelos elogios e pela contribuição. Adorei!

    O que escrevo são somente opiniões de uma pessoa que gosta de observar, de ouvir, de compartilhar... Polêmica é bom, nos faz pensar, discutir, argumentar. Provoca reflexão! Nem precisa dizer que eu gosto... rs

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